Doenças neurológicas, da enxaqueca à demência, afetam até 1 bilhão de pessoas no mundo todo, e a proporção está crescendo com o envelhecimento da população, disse na terça-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Hoje, 24,3 milhões de pessoas sofrem do mal de Alzheimer e de outros tipos debilitantes de demência, mas esse número deve dobrar a cada 20 anos, e a prevalência crescerá mais ainda nos países em desenvolvimento, disse a organização.
No levantamento intitulado "Doenças Neurológicas: Desafios de Saúde Pública", a agência da ONU disse que o atendimento neurológico deve fazer parte da assistência básica de saúde, para que deficiências não-detectadas sejam diagnosticadas e tratadas, especialmente na África.
"A menos que providências imediatas sejam tomadas em termos globais, o fardo neurológico deve ficar ainda mais grave, e uma ameaça para a saúde pública impossível de controlar", disse a OMS.
As doenças neurológicas -- que também incluem derrames, o mal de Parkinson e lesões cerebrais -- matam cerca de 6,8 milhões de pessoas por ano, o que equivale a 12% das mortes globais, afirmou o documento.
"O fardo das doenças neurológicas está atingindo uma proporção significativa nos países com uma porcentagem crescente de população com mais de 65 anos", disse a Nobel de Medicina Rita Levi-Motalcini no prefácio do relatório.
Apenas 2% dos casos de demência têm início antes dos 65 anos, mas, para cada cinco anos vividos além dos 65 anos, a prevalência de demência praticamente dobra, afirmou o levantamento.
"Nos países em desenvolvimento, conforme a expectativa de vida aumenta, as pessoas também alcançam a idade da demência, o que não acontecia há 20 anos", disse José Manoel Bertolote, coordenador da unidade da ONU para o gerenciamento de transtornos mentais.
Mas a debilidade dos sistemas de atendimento, a falta de funcionários treinados e a escassez de drogas essenciais, além da estigmatização das doenças, estão aprofundando a diferença no tratamento nos países ricos e pobres, disse a OMS.
A demência, que em geral é progressiva, causa perda de memória e outras deficiências cognitivas. Doenças neurológicas também provocam paralisia, problemas de comportamento ou de fala.
Cerca de 50 milhões no mundo todo sofrem de epilepsia, a maioria nos países em desenvolvimento, mas a enorme maioria dos pacientes não recebe medicamentos para impedir as convulsões, afirmou o estudo.
"Apesar do fato de tratamentos altamente eficazes e baratos estarem disponíveis, até nove em cada dez pessoas que sofrem de epilepsia na África não são tratadas", disse a diretora-geral da OMS, Margaret Chan.
"Em alguns países africanos, as pessoas acreditam que a saliva transmite a epilepsia ou que o 'espírito epiléptico' pode passar para qualquer pessoa que assistir à convulsão. Essas ilusões fazem as pessoas se afastarem de alguém que está tendo uma convulsão, deixando-a desprotegida."